quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

QUEM DERA A PAZ...









Em Dezembro do ano passado, um professor meu me sugeriu que escrevesse alguma coisa sobre a guerra de Angola e mandasse para o blog dele. Disse a ele que esse tema, apesar de mais de 30 anos, ainda era doloroso pra mim mas quem sabe um dia esse texto viesse com mais naturalidade.


Desde domingo estou às voltas com esse texto que agora insiste em ser escrito. É como uma APELO À PAZ. Não sou escritora, apenas essa necessidade agora de falar sobre a Guerra/Paz, pelo olhar de quem já passou por uma e encontrou agora a outra. Queria compartilhar com meus amigos, não a dor mas a alegria de saber reconhecer que passou!

Com carinho

Guidha



QUEM DERA A PAZ...

- Guidha Capelo -

Quem dera os povos despertassem com consciência

e distinguissem a leveza da Paz, da dor da guerra...

Quem dera não houvesse mais necessidade

De mensageiros nem embaixadores da Paz...


Quem dera acabassem as manifestações

Tratados e canções pela Paz

Por ser ela, uma realidade...


Quem dera acabassem os interesses escusos,

bélicos, frios que desabam em guerras...


Porque

Quem passou por uma guerra,

Mesmo que não tenha sangrado,

Saiu aos pedaços, dilacerado,

Jamais se esquece... Jamais apaga...


É uma viagem sem volta!

Um pedaço que fica,

Lembranças que martelam,

Uma história obrigada a findar,

Um naco de alma que apodrece!


Ninguém sai inteiro,

Ninguém é mais Alguém!

Perdem a identidade, as raízes.

E como diz uma amiga de angola*:

"...por vezes parece que paramos no tempo

ficamos presos a um passado

que está colado na pele"...

Demora-se a recuperar o brilho,

A luz do olhar...


Eu,

Eu demorei uma vida inteira

Pra sair da escuridão,

Andei pela vida... Não vivi!

Fui como uma vela acesa

Que eu deixei arder...


O vazio de informações foi minha saída.

A ausência de lembranças me fortalecia...

E assim fui apagando um pedaço de minha vida...


Tem vezes que me torturo perguntando:

Quando é que nós, humanos, vamos entender

Que toda a guerra é uma inconcebível loucura?

A maioria dos humanos sabe,

Mas são manipulados por uma minoria que se impõe

Na defesa de seus interesses.

Quando vamos tomar coragem e dizer NÃO???


Por acaso alguém consegue quantificar

O potencial humano que uma guerra joga fora???

Podem dizer que quantidade de órfãos, viúvas e mutilados,

Provocam a demência de uma guerra?

Têm noção de quantas famílias se separam, se perdem,

Quantos sonhos destruídos e o mal que fazem a um país?


... e a mim, ainda uma menina,

Que chorei lágrimas amargas por ter sido separada

De minha família, de meus amigos, de minha história,

E nos perdemos dentro desta diáspora...

Perdendo-nos nessa insanidade que foi a guerra...???


Ninguém me perguntou se eu queria viver isso...

Que eu saiba, nunca houve um plebiscito para o povo decidir

Se vai ou não vai querer uma guerra...

Durante anos, vaguei no vazio, depois senti revolta,

mágoa, desespero, de novo vazio, solidão, solidão...

Alguém me perguntou se queria sentir isso???


Mas cada lágrima vertida foi me lavando, me iluminando...

Me tirando o aperto em meu coração...

Hoje consigo perdoar, consigo ter vontade de voltar.

porque o melhor de nós ficou lá...

Os grilhões que me prendiam à dor, se quebraram,

Hoje sinto vontade de ajudar a recuperar meu país...


Por isso eu sempre digo:

Quem dera a palavra "guerra" virasse

Uma palavra perdida num dicionário velho,

Ou uma página num livro de História Antiga...

de nossos antepassados...


Guidha Capelo

Fev 2008

(*Rosarinho)




Vim aqui buscar este texto tao bem espelha o que sinto

http://www.muitoalemdemim.blogspot.com/