sábado, 30 de junho de 2007
Os Resistentes
Ao Xico Fanhais e ao Manuel Freire
Acumulam derrotas e naufrágios.
Perderam amigos e haveres.
Mas sonham.
Caíram dez vezes
e onze se levantaram.
Porque sonham.
Nos seus olhos há torrões
de terra
cordões umbilicais
e a espuma vermelha de cavalos verdes.
Eles sonham.
Em cada gesto deixam a pairar
um aroma essencial de coiro curtido
ou alfazema.
Renascem dia-a-dia
agarrados à palavra mais fraterna
de todos os alfabetos.
São meninos transparentes
no imenso carrossel da luz.
Entram pela casa do padeiro
como fosse a sua.
Entram pelo mar do pescador
e compartilham peixe
e cicatrizes ancestrais.
Atravessam oceanos para levar o lume
ao alto das montanhas.
Falam na língua do cristal e da prata.
Bebem vinho.
Cantam.
Afagam a memória.
Passam devagar um dedo pela linha
de cada ruga e relembram
as margens duras do fogo
tornando mais amável
a imensa geografia deste mundo.
José Fanha
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