segunda-feira, 2 de abril de 2007

Limbo








António Castel-Branco

Tu que passas pelo
mundo em busca incessante
e que calcorreias caminhos
perseguindo uma quimera...
que viajas pelos sonhos
procurando alcançar
e que vogas pelos mares
tentando descobrir...
que calas num abismo
o desespero cortante
e abafas num gemido
toda a dor e sofrimento...
que aos deuses do cosmos
suplicas mercês
e à terra que pisas,
conforto e protecção...

Tu que entreténs a vida
em auto-pesar
e sentes revolta,
ira, raiva, rancor...
que nas dobras do tempo
que aconchega os sonhos
buscas as bênçãos
que acalentam o ser...
que no eterno instante
duma chama apagada
pelo sopro da vida
suspensa no éter
e buscando a semente
da felicidade,
de desespero
te vais afundando...

Deixa teus pés descansar...
liberta teu coração...
abre a boca e faz soar
o brado mudo que te tolhe.
Abre teu ser à essência
da vida que nos liberta
pois o segredo que buscas,
a meta para onde corres,
o remédio que te cura,
o bálsamo que alivia...
não está em nenhum lugar,
nem na Terra ou no Céu,
não é planta ou animal,
rocha, líquido ou um santo...
não se encontra num ribeiro,
no mar ou num oceano,
num monte ou numa planície
nem na casa de ninguém...
reside dentro de ti,
na alma que é todo o teu ser,
o que é?
não descobriste?
é rir, é amar, é viver.
É a força que tu tens
de no instante final,
quando tudo está perdido,
quando tudo é sofrimento
e a esperança se foi...
te ergueres de novo
e, por muito que te custe,
olhares a vida
bem fundo nos olhos...
e sorrir.


Sintra, 23/03/2007

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